Pelo menos 12 mortos e cerca de 2,8 mil feridos, muitos deles membros da milícia xiita Hezbollah, assim como o embaixador do Irã no Líbano, Modschtaba Amani.
Pelo menos 12 mortos e cerca de 2,8 mil feridos, muitos deles membros da milícia xiita Hezbollah, assim como o embaixador do Irã no Líbano, Modschtaba Amani. Esse é o resultado da explosão simultânea em de centenas de pagers em várias partes do Líbano. Nessa quarta-feira (18/9), um dia depois a esse episódio, outras 20 pessoas morreram e mais de 450 ficaram feridas em uma nova onda de explosões, que atingiu walkie-talkies.
O Hezbollah usa esses aparelhos porque, ao contrário dos telefones celulares, eles não podem ser localizados. De acordo com relatos da imprensa, Israel pode ter interceptado os pagers Gold Apollo que agora foram detonados e colocado explosivos neles. Os dispositivos preparados foram então entregues ao Hezbollah e, presumivelmente, detonados de forma direcionada. Tanto o Hezbollah quanto seu aliado Irã consideram Israel responsável pela ação.
Um dia após a explosão dos pagers, uma outra onda de explosões atingiu de walkie-talkies. Isso foi confirmado pela agência de notícias libanesa Ani e pelas autoridades.
Israel não assumiu oficialmente a responsabilidade pelas ações. No entanto, elas ocorreram no contexto do violento conflito em que Israel e o Hezbollah estão envolvidos desde 7 de outubro do ano passado. Naquela época, o grupo militante islâmico Hamas, classificado como organização terrorista por Alemanha,União Europeia (UE), EUA e alguns outros países, atacou o território israelense, matando cerca de 1.200 pessoas e fazendo cerca de 250 reféns.
Em solidariedade ao Hamas, o Hezbollah bombardeou a área de fronteira no norte de Israel. Como resultado, mais de 60 mil israelenses deixaram suas casas. Por outro lado, cerca de 110 mil pessoas do lado libanês tiveram que fugir para outras partes do país.
A maior parte da imprensa israelense supõe que Israel tenha sido responsável pelo ataque. De acordo com o jornal Haaretz, por exemplo, a decisão de detonar os pagers foi tomada em um prazo muito curto. Originalmente, a operação deveria ter sido lançada no início de um esperado grande conflito. Entretanto, dois militantes do Hezbollah aparentemente teriam percebido que os pagers haviam sido preparados, informa o Haaretz. Por isso, teria sido decidida uma antecipação da detonação dos pagers.
Descobriu-se que “as unidades operacionais do Hezbollah foram completamente penetradas e severamente danificadas”, escreve o Haaretz. “Isso aumenta a sensação de insegurança dentro da organização, e é provável que prejudique seu sistema de comando e controle em um futuro próximo.”
“Do ponto de vista israelense, a operação ocorreu em um cenário onde não era previsível que haveria um acordo diplomático com o Hezbollah”, diz Gil Murciano, diretor-executivo do Instituto Israelense de Políticas Exteriores Regionais (Mitvim).
É verdade que os pagers aparentemente tiveram que ser detonados antes do planejado originalmente. “Mas, em vista de um conflito não resolvido e presumivelmente crescente, a ação do Hezbollah provavelmente indica que Israel já vê a situação atual como uma guerra aberta. E a disposição de aumentar a escalada faz parte dessa guerra. Não se trata apenas de uma questão de utilizar uma oportunidade operacional. Pelo contrário, Israel está mostrando que tomará todas as medidas possíveis para limitar o poder de combate do Hezbollah.”
“Ainda está em aberto como o Hezbollah reagirá agora”, diz o jornalista Ronnie Chatah, que vive em Beirute e atua no site The Beyruth Banyan. Entretanto, ele supõe que a milícia se absterá de retaliar em grande escala, apesar das baixas civis e do grande sofrimento humano.
“Depois de 7 de outubro, todos os lados estão relutantes em voltar a um cenário como o de julho de 2006 [quando Israel e o Hezbollah estiveram em guerra por mais de um mês] ou a Guerra do Líbano de 1982.” Por isso, ele acredita que a guerra deve continuar a se limitar a alvos militares. “O Hezbollah não fará nada que possa estender a guerra além disso.”
A ação ocorreu em um momento em que Amos Hochstein, conselheiro político do presidente dos EUA, Joe Biden, viajou para a região. No início da semana, ele conversou em Israel com o presidente do país, Isaac Herzog, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e o ministro da Defesa Yoav Gallant. O objetivo das conversas foi convencer a liderança israelense a não lançar uma operação militar em grande escala contra o Hezbollah.
Hochstein deveria então viajar para conversar com representantes do governo libanês. De acordo com o plano, eles deveriam se coordenar com o Hezbollah. Aparentemente, Hochstein não sabia sobre a operação de pager que estava por vir. No entanto, o ministro da Defesa de Israel, Gallant, havia informado seu colega americano, Lloyd Austin, sobre um ataque iminente, sem dar detalhes.
“A ação não representa uma tensão nas relações entre Israel e os EUA”, diz Gil Murciano. “Os americanos dizem que não foram informados sobre o ataque. O que importa para eles é o papel de mediador na região.”
“No entanto, os EUA têm um problema”, diz Ronnie Chatah. Eles não têm um ponto de contato no Líbano. “Não há representantes, nem políticos que possam encerrar o conflito e de uma forma que beneficie o país. E nenhum desses políticos está em posição de persuadir o Hezbollah a ceder. Por outro lado, parece-me que os israelenses também nem sempre levam em conta as preocupações americanas.”
O que ocorrerá daqui por diante está em aberto. O Haaretz não se diz muito otimista. “O ataque, que é atribuído a Israel, expôs a fraqueza do Hezbollah e humilhou seus líderes”, escreve o jornal em seu site. “Esse não é o tipo de incidente que leva a um fim tranquilo no Oriente Médio.”