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Inclusão e dignidade

Governo do Acre abre 22 novas salas de alfabetização rural e leva pra sala de aula quem já tinha desistido de estudar


Com passos firmes e uma lanterna na mão, um homem rompe a escuridão na floresta para não se atrasar. Vai a um compromisso que se repete quatro vezes na semana. Carrega um caderno, caneta, lápis e muita esperança. Aos 67 anos de idade, o ex-seringueiro João Souza Oliveira é um dos alunos da turma de alfabetização, na escola estadual rural Santa Lúcia II, no ramal Colibri, seringal Bagaço, na divisa entre Rio Branco e Porto Acre.

Natural de Sena Madureira, seu João conta que entrou numa sala de aula ainda na infância. Frequentou menos de um mês. Como precisava ajudar o pai na estrada de seringa, trocou o caderno pela poronga e o facão.

"Não deu tempo nem de aprender a escrever o nome", lamenta. Quase sessenta anos depois, incentivado pelas filhas que já são formadas, decidiu recuperar um pouco do tempo perdido. O filho Ocimar Oliveira, é colega de turma. Seu João é um aluno aplicado, não faltas as aulas e já arrisca colocar no papel o nome que por décadas não conseguiu escrever.

"Dessa vez só saio daqui com o diploma na mão.", garante.

Seu João (penúltino a direita), os colegas de sala e a professora Terezinha (centro): "sempre sonhei em voltar a estudar; passei a maior parte da minha vida sem saber assinar meu nome". Foto: Sérgio Vale

A escola, que é de madeira, abriu em agosto passado a primeira turma de alfabetização rural para jovens e adultos. Dos dez alunos que começaram, sete continuam assistindo as aulas da professora Terezinha Ferreira. Aposentada, ela conta que só voltou a lecionar movida pelo desafio de alfabetizar pessoas de sua faixa etária:" Dá gosto de ensinar a eles", revela.



"Quero dar exemplo aos meus filhos"

Aos 14 anos de idade, a dona de casa Marilene Gomes da Silva abandonou os estudos. Aos 46 anos e mãe de seis filhos, pediu ajuda ao marido para concluir os estudos. Voltou a estudar e viu na volta à sala de aula como uma forma de incentivar os filhos.

"Quando eles souberam que eu iria voltar a estudar, me abraçaram. Vou até o fim por eles", revela.

Uma jovem apaixonada pelos desafios da educação

Quem coordena a escola é a jovem professora Vera Lúcia Cabral Ferreira., de 25 anos. Nascida na comunidade, se mudou para a capital para terminar os estudos.

Convidada para assumir a unidade de ensino viu a oportunidade de voltar para o lugar onde nasceu. Ela mora na Transacreana, distante mais de 100 quilômetros de onde trabalha. Por isso passa a semana na escola e só volta para casa nos finais de semana.

"Nossa estimativa é que a turma conclua esse módulo até julho do ano que vem. Se pra eles será um momento de felicidade, imagina pra nós", pontua.

Secretaria de Educação fortaleceu o ensino rural

A turma da escola Santa Lúcia II, é uma das 22 abertas esse ano pela Secretaria Estadual de Educação, para ampliar a oferta de vagas na zona rural para essa faixa etária.

No total são 114 em atividade. Em Rio Branco, além do ramal Colibri, comunidades na Transacreana e no Ramal da Garapeira, ganharam uma nova turma.

No interior, as salas estão espalhadas em todas as regionais. Desde a escola Valéria Bispo Sabará, em Brasiléia ate a escola Nunes Correia, em Rodrigues Alves.

"Mapeamos áreas onde o ensino rural não era ofertado, reunimos com os gestores e abrimos as vagas. O número de matriculados superou nossas expectativas ", afirma Jessé Dantas Souza, chefe da divisão do EJA.

Nos 22 municípios a alfabetização rural atende 14.500 alunos. No ano passado formou 1.361 pessoas que tinham defasagem idade/série.

O programa é um dos instrumentos que o governo estadual usa para combater e reduzir o analfabetismo no Acre, que em 2022 registrou a maior taxa de analfabetismo entre os estados da região norte. Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD), divulgados pelo IBGE, 8,5% da população do estado, é analfabeta. Essa taxa representa um recuo de 2,4 percentual em relação à registrada em 2019, data da pesquisa anterior. Na época, 10,9% da população acreana com mais de 15 anos, era analfabeta.
Secretário Aberson Carvalho: "vamos reduzir o analfabetismo no Acre". Foto: Sérgio Vale


"Temos um compromisso com quem não teve a oportunidade de aprender a ler. Assinamos um pacto de alfabetizar nossas crianças mas vamos olhar também para romper com déficit que a pandemia nos deixou. É o compromisso do governador Gladson Cameli com um futuro de qualidade na nossa educação", comentou o secretário da pasta, Aberson Carvalho.

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