Cidades Unidade na Luta

Sob nova direção: Mauro Bezerra toma posse e reafirma luta dos urbanitários

Por Redação

04/12/2024 às 09:00:00 - Atualizado há
Fotos: Acervo do Sindicato dos Urbanitários do Acre

Há quase 42 anos, um grupo de trabalhadores fundou o Sindicato dos Urbanitários do Acre. Como as mudanças no mundo trabalho, a entidade cresceu em número de filiados e de empresas representadas. Mas a combatividade nunca foi amenizada, independente dos governos que se sucederam nas últimas décadas. 

Porém, nos últimos anos, teve que amargar um declínio quase generalizado da classe sindical. Alguns fatores podem justificar essa situação adversa, se não vejamos: as constantes crises econômicas e fiscais das nações, as mudanças das forças produtivas e das relações de trabalho, a globalização e o neoliberalismo. 


No caso do Brasil, adicione ainda a chegada ao poder dos partidos de esquerda (tragou quadros do movimento), o fim do imposto sindical e a reforma trabalhista que oficializou o trabalho intermitente, a terceirização para atividades fins e a pejotização. Isso foi agravado pela formação de um novo proletariado advindo dos serviços oferecidos pelas plataformas digitais.

No Acre, o comandado sindical, liderado pelos trabalhadores em Educação e Saúde, chegou a encampar processos de impeachment contra governadores. Além da união e das greves, as entidades defendiam que os serviços essenciais fossem de qualidade, entre tantas outras lutas.


Para falar disso e de outros assuntos, a reportagem foi até a sede do último remanescente de um sindicalismo autêntico, o Sindicato dos Urbanitários, e conversou com o seu representante, Mauro Bezerra, de 48 anos. Recém-empossado para o próximo quadriênio, ele contou um pouco a história da categoria, falou sobre as conquistas e fez críticas ao Governo e à Prefeitura de Rio Branco. Veja os principais trechos da entrevista:

O Janelão - Comente sobre o trabalho de vocês nos últimos anos? 

Mauro Bezerra - Temos uma extensa folha de serviços prestados a esta categoria. Substituir o Jucá no cargo de presidente não é fácil. É um desafio enorme comandar um sindicato com o prestígio do nosso.  O nosso lema é organizar, lutar e vencer. Somos uma gestão séria, comprometida e transparente. Estamos agregando novas empresas do setor elétrico e saneamento e, dessa forma, ampliando a nossa base. Fizemos piquetes, paralisações e encaminhamos expedientes para denunciar o descumprimento de leis trabalhistas, solicitamos mediação junto a Delegacia Regional do Trabalho - DRT para conflitos nas empresas Impetus, Control e Energisa.    


O Janelão - Os concursos simplificados são uma espécie de desvio de função dos trabalhadores?  

Mauro Bezerra - E exploração. Esses trabalhadores são contratados como atendentes de portaria e trabalham, no papel, de segunda a sexta, das 8 às 14 horas. Essa jornada é fictícia, uma vez que eles cumprem quase o dobro dessa jornada e sem direitos básicos. Essa situação ainda é pior na capital. No Saerb os trabalhadores ficam até 24 horas quando os equipamentos são danificados. Estes, em sua maioria, são obsoletos.  Ameaças e pressões psicológicas são uma constante nessa empresa. Em algumas reivindicações avançamos, noutras não. Estamos aproximando o sindicato da categoria e, no próximo ano, iremos dar formação para os nossos filiados e dirigentes de base. Somos do diálogo, mas se os patrões se recusarem, iremos para outras formas de luta. Essa é a principal característica da nossa entidade.    

O Janelão - Qual é o balanço que o senhor faz desses mais de 40 da entidade? 

Mauro Bezerra - Esse tempo é marcado principalmente por conquistas. A nossa atuação não se restringe às causas da nossa classe. A gente ajuda outros sindicatos e defendemos assuntos de interesses da sociedade como um todo. Vou te dar um exemplo: num governo foi proposto subir de 17 para 25% a taxação de ICMS na tarifa de energia. Fizemos mobilizações e pressionamos os deputados, que infelizmente aprovaram aquele nefasto projeto. E pegamos porradas da polícia. Também puxamos movimentos de combate à corrupção, em favor dos excluídos e por um transporte público de qualidade. A gente visa o bem-estar coletivo. 

O Janelão - Nestes novos tempos, quais são os principais desafios? 

Mauro Bezerra - A comunicação é um deles. Os patrões e a direita estão manuseando e manipulando as informações com muita rapidez. Precisamos nos comunicar melhor e resgatar a consciência de classe dos trabalhadores.  Hoje, infelizmente, uma parte considerável dos trabalhadores estão uberizados. Ele tem os meios de produção, ou seja, tudo que é disponibilizado é dele. Tem uma jornada de trabalho de mais de 14 horas diárias, inexistindo direitos trabalhistas e previdenciários. E muitos deles acham que isso é vantagem. Ainda tem a pejotização, aquela história de que todo mundo pode ter uma empresa.   

O Janelão - Vocês receberam informações de que trabalhadores do Saerb estariam expostos a perigos. Aproveite para falar sobre saúde e segurança no trabalho.

Mauro Bezerra - Uma das nossas missões é fiscalizar as empresas no que diz respeito à saúde e segurança do trabalhador. Estamos atentos e exigimos todas as formas de proteção que a lei determina. Quanto ao Saerb, temos duas categorias: o servidor efetivo e os trabalhadores contratados. Estes estavam exercendo as suas funções expostos a perigos. Denunciamos o caso na imprensa, encaminhamos ofícios e fizemos a denúncia no Ministério Público do Trabalho. Saúde e segurança dos nossos trabalhadores é e sempre será uma prioridade. 

O Janelão - Qual é a posição de vocês no tocante à jornada de trabalho 6X1? 

Mauro Bezerra - Isso tira do trabalhador o direito de passar tempo com sua família, de cuidar de si, de se divertir, de procurar outro emprego ou até mesmo se qualificar para um emprego melhor. A escala 6x1 é uma prisão e é incompatível com a dignidade do trabalhador. As centrais sindicais, há décadas, já se posicionaram sobre isso. A proposta é a redução de 44 para 40 horas semanais. Outra proposta paliativa é a 5X2, ou seja, a extinção do trabalho aos sábados. E, se tiver que trabalhar nesses dias, que o trabalhador seja remunerado extraordinariamente.   

 

O Janelão - E a reforma trabalhista aprovada em 2017? 

Mauro Bezerra - A reforma trabalhista gerou vários prejuízos, entre eles: desemprego, informalidade, concentração de renda, fragilização das entidades trabalhistas, redução de direitos, fim da contribuição sindical, aumento da jornada de trabalho e desigualdade no mercado de trabalho. A promessa da flexibilização era aumentar os empregos e desenvolver o País, inclusive houve financiamentos. A reforma trabalhista só trouxe desgraças para o trabalhador, pasmem, com a simpatia dele.

O Janelão - O que aconteceu com os representantes sindicais?

O Janelão - Acredito eu que uma parte dos sindicatos foi dominada por pessoas despreparadas. Estas, com interesses particulares, estão à frente dessas entidades, outrora autênticas e combatentes. As maiores entidades do nosso Estado fogem à luta. Tem presidente de sindicato que se diz de direita, contrariando a lógica da luta de classe. 


O Janelão - Qual é a sua avaliação dos governos de Lula, Gladson e Bocalom? 

Mauro Bezerra - Começando pelo município. É temerária a gestão do Bocalom, no sentido de gastos, notadamente neste ano de eleições. É um prefeito autoritário, ou seja, que não escuta ninguém. É só ver a relação dele com a Câmara de Vereadores. Ele não veio discutir o saneamento com o sindicato, que é contra a privatização, por inúmeras razões. O capital vem lucrar. Ele não se comprometeu com esta pauta. Em janeiro é a data-base dos trabalhadores do Saerb e ele vai ter que apresentar uma proposta de reajuste. O governo estadual, depois de seis anos, ainda não disse a que veio. Quando se reelege um governador indiciado, dá-se um cheque em branco para ele fazer o que quiser. Ele é carismático, mas a gestão dele é abaixo da crítica, medíocre. O governo Lula está no poder, mas não consegue administrar. No nosso sistema republicano de coalizão, ele é refém do Congresso Nacional, que é conservador e fisiologista, em sua maioria. Os trabalhadores brasileiros elegem patrões, infelizmente.

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