Os níveis de gases do efeito estufa na atmosfera alcançaram novo recorde em 2023, mantendo as previsões de aumento de temperatura nos próximos anos, anunciou nesta segunda-feira (28/10) a Organização Meteorológica Mundial (OMM), a agência climática da ONU.
Os níveis de gases do efeito estufa na atmosfera alcançaram novo recorde em 2023, mantendo as previsões de aumento de temperatura nos próximos anos, anunciou nesta segunda-feira (28/10) a Organização Meteorológica Mundial (OMM), a agência climática da ONU.
De acordo com o relatório anual de gases do efeito estufa da Organização Meteorológica Mundial (OMM), o dióxido de carbono (CO²) está se acumulando mais rápido na atmosfera do que em qualquer outro período da história humana, tendo aumentado em mais de 10% em apenas duas décadas.
No ano passado, as concentrações médias globais dos gases de efeito estufa CO2, metano e óxido nitroso aumentaram em 151%, 265% e 125%, respectivamente, em comparação aos níveis pré-industriais (antes de 1750), revelou o boletim. O CO2 é responsável por cerca de 64% do efeito de aquecimento no clima e provém principalmente da queima de combustíveis fósseis.
“Mais um ano. Mais um recorde. Isso deveria acender o alerta dos tomadores de decisão. Estamos claramente fora do rumo para cumprir a meta do Acordo de Paris", disse Celeste Saulo, secretária-geral da OMM.
O boletim da OMM, que traz dados sobre concentrações de gases do efeito estufa e não sobre os níveis de emissões, é publicado sempre antes da Conferência anual da ONU sobre o Clima. A Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP29) será realizada em Baku, no Azerbaijão, entre os dias 11 e 22 do próximo mês.
Esse crescimento foi impulsionado pelas grandes queimadas e uma provável redução na absorção de carbono pelas florestas, em combinação com as altas emissões provocadas pela queima de combustíveis fósseis decorrentes da atividade humana.
O aumento de CO2 na atmosfera foi maior do que em 2022, embora tenha sido menor do que o registrado nos três anos anteriores, afirmaram os meteorologistas. Por outro lado, enquanto as emissões continuarem, os gases continuarão se acumulando e elevando a temperatura no mundo.
Como o CO2 consegue permanecer por muito tempo na atmosfera, os níveis de temperatura já registrados persistirão por décadas, ainda que as emissões sejam reduzidas a zero rapidamente.
Nos últimos 20 anos, os níveis de CO2 aumentaram 11,4% em relação ao registrado em 2004 pelas estações de monitoramento do programa de monitoramento global da atmosfera da OMM.
A própria mudança climática poderá em breve “fazer com que os ecossistemas se tornem fontes maiores de gases de efeito estufa”, alertou Ko Barret, vice-diretora da OMM.
Em 2023, a concentração de CO2 atingiu 420 partes por milhão (ppm), o metano 1.934 partes por bilhão (ppb) e o óxido nitroso 336 ppb.
“Isso são mais do que apenas números”, afirmou Saulo. “Cada parte por milhão e cada fração de um grau de aumento de temperatura tem um impacto real em nossas vidas e em nosso planeta”, acrescentou a secretária-geral.
A OMM afirmou que a última vez que a Terra vivenciou uma concentração semelhante de CO2 foi de 3 a 5 milhões de anos atrás, quando a temperatura era de 2ºC a 3ºC mais quente e o nível do mar era de 10 a 20 metros mais alto do que atualmente.
As análises de dados do órgão estimam que pouco menos da metade das emissões de CO2 permanece na atmosfera, pouco mais de um quarto é absorvida pelos oceanos e menos de 30% pelos ecossistemas terrestres – embora isso possa variar anualmente por causa de fenômenos naturais como El Niño e La Niña.
Aprovado por 195 países, o Acordo de Paris tem a meta de manter o aumento da temperatura média global abaixo de 2°C, e de preferência evitar que esse aumento ultrapasse 1,5°C. Para isso, os países precisam promover grande cortes nas emissões de efeito estufa. Um aquecimento maior do que o previsto no acordo coloca em riscos diversos ecossistemas e pode provocar um colapso no planeta.
Com a próxima rodada de negociações a ser realizada na COP29 se aproximando, a ONU também divulgou que as “contribuições nacionalmente determinadas” (NDCs) já apresentadas pelos países são suficientes para reduzir as emissões globais em 2,6% nesta década em comparação com o nível de 2019. Cientistas, porém, estimam que um corte de 43% nas emissões até 2030 é necessário para alcançar as metas do Acordo de Paris.
As conclusões do boletim divulgado nesta segunda foram consideradas um “momento de virada” por Simon Stiell, secretário-geral da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC).
Os NDCs são compromissos assumidos pelos países para reduzir as emissões de gases do efeito estufa. O Brasil se comprometeu a reduzir as emissões em 48% até 2025 e em 53% até 2030, em relação aos níveis de 2005.
“Os atuais planos climáticos nacionais estão muito aquém do que é necessário para impedir que o aquecimento global prejudique todas as economias e destrua bilhões de vidas e meios de subsistência em todos os países”, disse ele.
Para Stiell, as novas NDCs devem divulgar um caminho claro para evitar que isso aconteça. O estabelecimento de metas mais ambiciosas depende do que ocorrerá na COP29, onde cerca de 200 países irão discutir um novo sistema global de comércio de emissões e um aporte financeiro anual de 100 bilhões de dólares (R$ 570 bilhões) para ajudar os países em desenvolvimento a atingirem suas metas climáticas.
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